domingo, 10 de maio de 2009

Maio, maduro maio


O aguador sírio, de José Luis Nestares



Maio maduro Maio


Quem te pintou


Quem te quebrou o encanto


Nunca te amou


Raiava o Sol já no Sul


E uma falua vinha


Lá de Istambul


Sempre depois da sesta


Chamando as flores


Era o dia da festa


Maio de amores


Era o dia de cantar


E uma falua andava


Ao longe a vagar


Maio com meu amigo


Quem dera já


Sempre no mês do trigo


Se cantará


Qu'importa a fúria do mar


Que a voz não te esmoreça


Vamos lutar


Numa rua comprida


El-rei pastor


Vende o soro da vida


Que mata a dor


Anda a ver,


Maio nasceu


Que a voz não te esmoreça


A turba rompeu
(Zeca Afonso)

3 comentários:

brancalúa disse...

Graciñas por este post,sempre é un gusto escoitar a Zeca Alfonso.
Co teu permiso vou levar este post ao blog de superquintob, espero que non che parezca mal.
Un abrazo

Anónimo disse...

Amigo José,

Maio, maduro Maio é um canto maravilhoso do Sul. Uma falua, uma barca, um navio que nos leva a subir e a descer o rio, rumo ao sem rumo que nos surge: uma "ilha" de trigo, uma terra seca e pobre, mas de coração "caiado" de branco como as casas e o azul gritado dos rodapés... O deserto, o canto do Sol, o Cantar de Maio e do Sul.

Um abraço de muita amizade nesse Maio.

José António Lozano disse...

Muitas Graças,
amigas. Durante muitos anos ouvi José Afonso continuamente.É parte de uma formação humana e estética que considero essencial.É um verdadeiro mestre.
Claro que não me importa que o leves a superquintob.O bom de José Afonso é que não se limitou a uma reivindicação política determinada. Ele tomou a essência do seu povo e construi algo imortal, gostam dele crianças e velhos. Ele toca todas as fibras.
Amiga Saudades,
eu invejo o seu Alentejo, esse sul que é "anterior a nós". Pode que escreva um post sobre o que é Portugal para mim,ainda que devo reunir muita energia para o fazer. A sua poesia,o seu sentido estético, a luz e a pureza da palavra, os jardins, o trigo, o caiado coração, os azulejos...
Aqui na Galiza o aguador chegou e chove aos cântaros nesta tarde de Maio molhado.
Un forte abraço, amiga.