quarta-feira, 13 de maio de 2009

Caracteres III


Sempre se criam associações indejesáveis em relação a usos e intrumentos precisos. Não é possível evitar a distorção e o mal uso quase de qualquer cousa que surge com um propósito definido. Ao rever o enlace que envia para o artigo do Eneagrama faz-se uma consideração sobre o facto da sua relação com as pseudociências. É claro que esse é um perigo. E um facto que é utilizado assim. Provavelmente esse seja o seu uso maioritario.


A única maneira de reapropiar-se do correto consiste en desenvolver uma prática adequada e insistir na necessidade de procurar a forma para a que foi concebido. Muitas vezes ensinos com um potencial de desenvolvimento são utilizados para objectivos limitantes e grosseiros. Mas não há nada que possamos fazer ao respeito excepto desenvolver e buscar o modo correto.


Algumas pessoas pedem maiores explicitações de qual é modo correto mas penso que o essencial é que as pessoas o procurem, se estão interessadas. Realmente a diferença entre um saber de tipo informacional e outro de tipo mais sapiencial é que o segundo tem que ser contrastado com a própria experiência. Pode que isto seja assim em quase tudo mas é inequivocamente assim no que implica o autoconhecimento. É assim por definição. De maneira que não há uma teoria ou um sistema como tal mas uma compreensão progressiva que se realiza desde a própria experiência. Esta é a razão de porque existem sugerências, indicações ou considerações para ser trabalhadas não simplesmente para ser rejeitadas ou aceitadas. Neste caso estariamos perante um patente ou velado modo de condicionamento.


Pode parecer curioso mas todas as pessoas estamos à espera de intruções claras e precisas. Se isto acontecer de jeito direto geralmente carregamos estas instruções de uma esperança que anula o seu sentido. Carregamos de tal utilitarismo certo tipo de saberes que virtualmente os voltamos inúteis. É o nosso perpétuo paradoxo. Mas, por outro lado, se algumas pessoas recebessem instruções precisas simplesmente as rejeitariam, apesar de estar exigindo o contrário.


Voltando ao problema do carácter e da personalidade, se observarmos os problemas de comunicação, nos grupos e nas organizações, muitos problemas de funcionamento surgem de choques de carácter e personalidade onde ninguém escuta ninguém. De facto, em certos contextos, a comunicação com um mínimo de objectividade é impossível. Há demasiados preconceitos e imaginação funcionando. Demasiadas projeções também. Pode que o tão considerado "silêncio do sábio" não seja muitas vezes mais do que isto: não dar pé a uma excessiva manipulação do dito. Mas até o silêncio se "santifica" com intenções que, quiçá, não tenha.


Estamos tão habituados aos gestos, às proclamas de intenções, a marcar o nosso território ideológico, às autodefinições "para que constem" que não percebemos o limitante de tudo isso. Rapidamente temos que assegurarmo-nos um lugar de referência e marcar a distância com os outros, imaginados ou reais.


Sempre me chamou a atenção como algumas pessoas julgam a outras simplesmente por vê-la falar com tal ou qual pessoa, por vê-la com tal ou qual livro ou por circuntâncias bastante aleatórias e incidentais. Pode que eu esteja errado mas existe uma espécie de marcagem, até por parte de pessoas próximas, que vem com preocupação que nos afastemos da "ortodoxia" e que se preocupam "pelo nosso bem". Querem-nos salvar de nós mesmos mas não são conscientes de que essa "compaixão" não é boa e de que têm uma pobre opinião da pessoa que estimam. Mas estas pessoas deveriam compreender que só se preocupam por si mesmas e não por nós. É um problema que têm consigo próprias e deveriam reconhecê-lo.


Não há uma verdadeira comunicação ali onde se pretendem projetar identidades. Uma verdadeira identidade nunca é uma projecção. Se existe, então é algo tácito. E, se não existe, pois tampouco deveria ser um problema.


Infelizmente sofremos o condicionamento de considerarmo-nos aceites se participamos das mesmas ideias, e assim é como nos vendemos baratos!


Realmente a vida é gratuita e ninguém nos deveria vender nada a não ser cousas como sapatos, livros ou uma casa, ponho por caso. O resto, que não é pouco, não deveria comprar-se ou vender-se.




2 comentários:

Anónimo disse...

Chíqui:
A verdade é que um autêntico prazer deter-se neste blogue e demorar-se nos magníficos espelhos que nos desnudam e permitem fazer-nos andar mais livres. Por isso quero agradecer esta ampliação dos horizontes para o nosso ser, recolocando-nos, consciente ou inconscientemente, num lugar mais alto, mais universalmente próprio. (E se alguém pensa que estou a propor a tua elevação a “filósofo de moda” ou a conversão do “chiquismo” numa nova escola de pensamento contemporâneo, direi-lhe, à tua honra: “UCA, UCA, UCA!!!”.)
Saúde e parabéns por estas navegações, amigo.

Jose António Lozano disse...

Muitas graças,

Ramiro. Un forte abraço para ti e os teus.Como dizia alguém uma vez:

"Não esqueço os que estão acima de mim"