segunda-feira, 11 de maio de 2009

Caracteres I

Os mesmos vícios que nos parecem imensos e intoleráveis nos demais não os advertimos em nós


Ontem encontrava o livro de La Bruyére, Les caractères, entre os livros da minha biblioteca. Casualmente tratava-se do dia em que se cumpria o aniversário do seu falecimento. Pensava em escrever um post sobre o condicionamento emocional e o carácter, do que já falei aqui brevemente. Um dos interesses mais notáveis da filosofia prática, que tem no dito "Conhece-te a ti mesmo" a sua máxima, tem a ver com o auto-conhecimento das limitações e condicionamentos que formam o carácter. Antes de poder superar e alcançar estágios mais altos de desenvolvimento é preciso um trabalho sobre as própias manipulações do nosso ego. É um tema delicado. A nossa identificação com um sentido de ser e de existência está tão arraigado em nós que qualquer tentativa de desmascará-las topará com uma resistência até violenta.

No pensamento francês nota-se uma corrente de "psicólogos" muitas vezes (equivocamente) chamados de moralistas (La Rochefoucauld, Moliére, La Bruyére, Montaigne...) que mostram um refinamento de espírito muito subtil e emparentado com a procura de uma sabedoria tradicional que se remonta, pelo menos, à época dos trovadores, ao gai saber.

Trata-se do descobrimento dos tipo psicológicos como modelos de comportamentos estereotipados dos que estamos presos, com os que nos identificamos emocional e passionalmente de jeito, por tanto, inconsciente e que tomamos pelo nosso verdadeiro ser.

Na sociedade actual isto mostra-se como uma ênfase no consumo emocional de determinado tipo de paixões e emoções fortes e agressivas, morbosas ou excitantes. Trata-se de comprender que esta educação emocional e sentimental consome e devora um aceso a um nível mais profundo e sutil da experiência humana.

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