domingo, 4 de janeiro de 2009

Ondulação e sincronia: a comunicação (I)


Criar um sistema de comunicação que não se sustente nos processos discursivos, estritamente racionais, sequênciais, que vão de A a B, que falam de causa e efeito desse jeito tão unidimensional é uma experiência única que atenta contra a rigidez da tradição, especialmente da ocidental. A mente ocidental cria muros invisíveis que continuamente fazem que a comunicação fique ancorada ou bem que se realize compulsivamente sobre temas obsesivos, querendo impor linhas de pensamento, temas a tratar, debates, estruturas dialógicas, enfim todo um imenso edifício de elementos pesados que actuam como grilhos nos pés, cadeias nas mãos. É algo assim como um movimento no plano quando poderia haver três dimensões. O pensamento não é capaz de abandonar a teologia, mesmo que se apresente como crítico da teologia, como ateu, como o que quiser. Tudo se joga num espaço fechado, denotativo. Os mesmos procesos artísticos e poéticos, que têm por si próprios uma virtualidade de comunicação essencial, são utilizados como objectos de consumo e decoração, de esteticismo, não aportam nada á construção do conhecimento e da comunicação mas ao consumo e ao valor. Há aqui um profundo analfabetismo, uma imposibilidade de ler mensagens que se estruturam sobre outra maneira de conceber a comunicação. Todo o pensamento e a filosofia ocidental descansam numa justificação permanente, é um contínuo discurso justificativo. Está ancorado na culpa ou na acusação.
Por isso é interessante o conceito de onda e de sincronia. Uma onda implica um movimento em que se emite baixo uma determinada frequência cum sentido dos tempos e dos ciclos. Chega a um ponto e volta a recomeçar tratando diferentes temas mas sob a mesma frequência, criando um patrão que apela ao ritmo e a uma outra sensibilidade. A sincronia apela a elementos simultaneamente heterogêneos que confluem numa conexão holística mas que podem não ter semelhança entre si: como os elementos de uma pintura, uma fotografia. Essa co-presença brinda-nos uma imagem , como um arquipélago de ilhas. Para além disso está o que Jung chamava de sincronicidade e que poderiamos chamar também de co-incidência.
Provavelmente as línguas com sistemas de representação ideográfico possam reflectir melhor aquilo que aqui quere ser exprimido.Como diria Wittgenstein, está o que se mostra e está o que se diz. E são cousas diferentes que é preciso tecer.


2 comentários:

Esdedesear disse...

Muy interesante. Será posible que los descubrimientos de la física cuántica,llevados algún día al terreno del pensamiento, den cuenta algún día de lo que dices? Serán nuevas evidencias?

José António Lozano disse...

De hecho ya es así, la física cuántica ya lo hace. Peo no creo que sea necesario intentar demostrarlo. Me gusta esta frase de Kant de su "Antropología", es en la primera página:

"El problema de estudiar a los seres humanos es que su conducta varía desde el momento en que saben que están siendo observados"

Me parece una consideración muy obvia pero muy aguda. Yo siempre pongo esta frase en correspondencia con el "principio de incertidumbre" de Heisenberg. Algunos de mis alumnos me miran con cara de: "Bueno, pero adonde quieres llegar? o ¿Que relación hay?.
Por lo tanto y, siguiendo a Parménides, lo que es ya es y no tiene que llegar a ser.
Te envío un fuerte abrazo , Conchita. Y muchas gracias por tu comentario.