quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Bom Natal, amigos.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
A noite de Rustam Çiçek I: cometas e noites

Az zolmat-e ramide khabar midehad sahar
shab raft o bâ sepide khabar midehad sahar
az akhtar-e shabân rame-ye shab ramid o raft
az rafte o ramide khabar midehad sahar
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Identidade
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Idries Shah

domingo, 22 de novembro de 2009
Carta a um amigo

compreendo as tuas inquietações sobre o devir da humanidade. Com certeza são as mesmas que as minhas. Provavelmente no íntimo desenvolver-se do quotidiano muitas pessoas se ponham essas mesmas questões que tu tens. Como agir? Que fazer?. Há uma estranha inércia dos tempos, por vezes parece que ninguém tem interesse em nada, que tudo é um ir cobrindo aparências, à espera do seguinte protocolo burocrático, como se a vida fosse simplesmente uma cousa atrás da outra. Mas que resposta posso dar-te? Não tenho nenhuma. Na realidade não tenho uma ideologia qualquer, não sou galeguista nem nacionalista nem iberista nem europeísta. Não posso entusiasmar-me com as "novas" políticas e não acredito que os jornais me tragam a "Boa Nova". Considero isso (as diferentes etiquetas ideológicas) falsos problemas que me evadem do meu plano de imanência. Devemos ser realistas com relação ao nosso lugar no mundo. Sou uma pessoa normal, que dá aulas de secundária de algo pouco prático (filosofia) e tenho uma família com a que procuro conviver em harmonia. Tenho interesses culturais e humanos de autoformação, procuro desenvolver o meu civismo dentro de uns limites comuns e não destaco por nada especial. A máxima incidência pública são blogues entre amigos. De maneira que a questão sobre projectos e planos de futuro de carácter global são grandes demais para mim. Vou vivendo, simplesmente. Acredito que a riqueza que posso compartir com outras pessoas é este ir vivendo sob a consciência tácita de uns valores essencias que eu chamo de Tradição. É uma preocupação muito pragmâtica que não me permite envolver-me em Ideais porque tento aprender diariamente a ser um ser humano no contato diário com outros seres humanos: e isto é muito mais importante e provavelmente marcante que teorizar sobre grandes planos. Digo isto com todas as limitações inerentes a uma afirmação deste tipo.
Se conservamos o nosso ideal interno na nossa imanência poderemos fazer realmente boas cousas, tal e como o homem verdadeiro dos taoístas. Significa um saber fazer sem grandes planos, ligado ao desfrute dos acontecimentos e dos encontros. São os políticos, intelectuais, etc. os que carregam com o peso de "representar" a outros. Considero que a única política verdadeira está em apresentarmo-nos como seres humanos desde a nossa experiência real, não imaginada ou desejada. Conheci um velho mestre (Omar Ali Shah) que punha o exemplo da "gota de azeite". Sobre um papel pomos diversas gotas cá e lá. Depois de um tempo o papel absorve o azeite que se vai extendendo até entrar em contato. Não há luta pelo controle, há um desenvolvimento progressivo e harmónico. Em vinte anos as mudanças podem ser decisivas e quase não teremos reparado nisso, como ver a nossa fotografia de um tempo atrás. É o que se conhece no sufismo como "técnicas do tingido". Por isso é tão diferente a sabedoria oriental e tão necessária hoje. Nós podemos construir isso mas não é preciso lutar contra nada, simplesmnete temos que nos esforçar em experimentar e aprender de maneira que o "sentido comum" se torne algo concreto e efectivo. De súbito compreendemos que ver com claridade só nos obriga a ter um pouco de esse tão denostado sentido comum. Devemos deixar de ser heróis, esforçados prometeus. Esse tempo já passou.Não há melhor exemplo que a experiência budista neste sentido, não tenho a menor dúvida. Provavelmente a experiência civilizadora mais impressionante da história humana.
Ressumiria dizendo: deixemos de fazer planos, vivamos incrementando as nossas possibilidades, as nossas experiências mas abandonemos toda ideia de controle e dirigismo: na verdade não podemos controlar nem dirigir nada.
Nuestra llanura.
Esta es, hermanos, nuestra tierra ancha
donde nada se detiene, donde todo pasa,
y el viento no duerme y el horizonte anda
Esta es, hermanos, nuestra tierra ancha,
vivimos en toldos. Cuando el tiempo cambia,
cambiamos los toldos. Así es nuestra vida.
Esta es, hermanos, nuestra tierra pampa
No es tierra estrecha, la tierra es bien ancha.
Por mucha que quieran a todos alcanza.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Crenças

terça-feira, 27 de outubro de 2009
Três médicos e um funeral
O imperador da China encontrava-se à beira da morte. Os sábios e médicos da corte procuravam uma solução mas o homem piorava. A situação era políticamente instável e alguns ministros tomaram a decisão de procurar um médico fora dos muros da corte. Decisão muito arriscada mas que foi necessária dada a difícil situação que atravessava a nação.
Pouco depois os espiões do reino chegavam com a informação de que um escuro médico de um bairro da cidade de Pekim podia ser o homem que precisavam. - Que venha imediatamente- disse o primeiro ministro. Já tinha que estar aqui! E aí podéis ver um homem de mediana idade, de cabelos grisalhos, aspeito singelo e modos naturais, sem afectação alguma. Era como se a presença na corte o intimidasse mas, ao meso tempo, não lhe causasse impressão. Estranho paradoxo que tem uma explicação: ao seu lado os homens pareciam vulgares e isso avergonhava-o. Era como se interiormente disesse: - Desculpem, não foi ideia minha o de estar aqui. Não quero incomodar os seus assuntos.
Por outro lado podia sentir a inveja e a expectação malevolente dos cortesãos. Bem, o caso é que o médico achegou-se ao imperador e deu-lhe a beber uma poção, que renovou durante três dias.
Mas não houve sorte, pois o imperador foi informado de que o médico oculto acabava de falecer. Todos olharam para o irmão, ainda presente. Este falou: - Agora compreendo as palavras do meu irmão quando dizia que na verdadeira medicina era o médico o que pagava.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Tong Len (tomar e dar)

"Oferece a vitória e o proveito aos demais e toma sobre ti a derrota e a perda"
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Humanidade

sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Diferença e normalização
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Intenção e acontecimento.

Isto relaciona-se com a maneira de transmitir o conhecimento essencial que não segue um processo linear. O mestre fala de cebolas ou põe exemplos onde se fala de cores, mas então muda e passa a falar do gato de Nasrudin e tudo dentro de um discurso simples e facilmente compreensível num sentido superficial. Há pausas, gestos. Sucedem-se perguntas e respostas que parecem seguir um sentido convencional mas há toda uma série de acontecimentos que seguem um afinamento que depende da energia do contexto. As cousas realmente acontecem por algo. A ideia da casualidade é aqui supersticiosa. Há realmente uma causalidade funcionando num nível mais profundo e multidimensional do que parece.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Transferência

quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Expiação
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Amores eu tenho

Responde, filha, formosa filha:
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Cousas curiosas

segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Ter razão e saber ter razão.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Família

terça-feira, 22 de setembro de 2009
Um galego e outro.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Cabeças, cordeiros e mestres.

"Aos meus mestres,
que tomaram o que foi dado
que deram o que não podia ser tomado"
Considero-a uma das melhores dedicatórias que li jamais.
- Não temos mais que a cabeça.
Muhammad respondeu:
- Temos tudo menos a cabeça.
(O aspirante a discípulo dirigiu-se ao mestre e foi o mestre quem pediu perdão)
domingo, 20 de setembro de 2009
Intelectual

sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Paradoxo

Tenho visto funcionar isto com frequência, começando por mim mesmo, e acontece muito nas empresas onde as pessoas devem alimentar uma falsa sensação de importância e uma motivação centrada sobretudo em sentir-se imprescindíveis. Depois são reformados e "la vida sigue igual". Em certo sentido actuamos como o Padrinho, pequenos Corleones do dia a dia. Em tudo há graus, naturalmente.
Quando nos libertamos de esse sentimento de "excessiva responsabilidade" a vida segue igual mas nós somos diferentes e podemos desfrutar sabendo que, felizmente, tudo irá bem sem nós e...porém nós estamos aí.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Jafar Sadiq e o vizinho bêbedo

quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Erro próprio e verdade alheia.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Identidade e pertença: uma confissão secreta.
_-_Italian_Girl_Drawing_Water_(1871).jpg)
domingo, 13 de setembro de 2009
Poder e superstição.
sábado, 12 de setembro de 2009
Interpretações

La verdad es la verdad, dígalo Agamenón o su porquero.
Agamenón- Conforme.
Porquero- No me convence.
De jeito compreensível durante muito tempo isto foi interpretado unilateralmente no sentido de que há verdades instauradas pelo poder que não podem convencer à parte fraca (o porqueiro). Era a típica explicação com consciência de classe de uma época.
Há, porém, a explicação de que o porqueiro é a parte desconfiada e ressentida da mente que não aceita a imparcialidade, em contraposição à nobreza do rei. A razão de que só se tenha visto uma cara durante muito tempo dá que pensar. Lembra-me o facto, que eu presenciei, de um sociólogo que interpretava os aforismos de Heráclito dizendo que era evidente o seu classismo e o seu aristocratismo, reduzindo o seu pensamento a uma simples emanação social.
Há uma frase procedente de Bahodine Naqshband que diz:
"Se ensinas por meio da autoridade não estás ensinando nada".
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
O que realmente acontece

quarta-feira, 9 de setembro de 2009
A generosidade e os inocentes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009
O canto do desejo ardente de Ibn Arabi

terça-feira, 21 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Informação

http://www.realsufism.com/
domingo, 12 de julho de 2009
Uma noite em Nishapur IV

Fátima era uma mulher de uns quarenta e cinco anos. Exprimia-se com uma jovialidade e uma viveza que contrastava com a sua voz grave e harmoniosa a um tempo. Transmitia uma confiança e uma tranquilidade essenciais. Tudo no seu corpo reflectia uma cadência musical e uma cálida simpatia que se fazia ainda mais patente quando escutava ao outro. Não só falava de um modo que um desejava que não parasse, era um gozo observá-la, mas era um pessoa que realmente ouvia ao outro. Isto percebe-se, o mesmo que o contrário.
- Considere o seguinte- falou Fátima. Hoje somos aqui quinze pessoas mas somos menos dum terço das que poderiamos estar. Logicamente as condições políticas têm a ver com isso mas para nós tudo está ligado. Por exemplo, coincide que você está aqui, que pessoas que são habituais nestas reuniões hoje não chegaram, que há uma tormenta fora e tudo isso e mais detalhes compõem uma situação que não se repetirá. É provável que nunca mais nos voltemos a ver, quase com toda probabilidade não coincidiremos as mesmas pessoas numa situação semelhante. Tudo isto é óbvio, é assim sempre, em todas as situações mas no nosso caso tem uma relevância especial. Poderia acontecer que esta mesma situação se repetisse dentro de seis meses com as mesmas pessoas e a impressão que levasse poderia ser muito diferente. Tanto das pessoas individuais como do grupo.
- Não alcanço a compreender o que me quere transmitir.
- Tudo muda no nosso trabalho. Na vida ordinária as pessoas não cambiam. Têm mudanças emocionais e temperamentais, acontecem cousas, obviamente, mas básicamente a pessoa é a mesma. Aqui não é assim: não podemos julgar uma pessoa de agora com os parámetros de há um ano. O outro cambiu, nós cambiamos. Cada situação tem um balance de qualidade diferente. É sutil mas muito real.
- Compreendo. Isto é o que faz que não haja regras fixas, que não se possam estabelecer dogmas nem crenças rígidas.
- Dependemos da percepção não das crenças. Os falsos grupos têm que reafirmar-se sempre numa série de crenças e utilizam todo tipo truques conscientes e inconscientes. Tome por exemplo qualquer sociedade com as suas aparentes diversidades de opiniões, ideologias, estilos de vida. Por mais diferentes que pareçam têm uma função complementar, necessitam-se mutuamente e alimentam a sua identidade na oposição e no contraste de uns com outros.
- Mas pode ser de outro modo? Somos seres sociais depois de tudo.
- É muito certo mas também somos seres cósmicos, por exemplo. Mas ninguém terá em conta isto. Não está no programa de lavagem cerebral das diversas sociedades. Existe uma ideia implícita do que é o homem e de até onde podemos chegar e do que podemos obter, sempre dentro duns certos limites. Qualquer rapaz de doze anos em Ocidente sentirá-se hoje livre de negar a existência de Deus da maneira mais simplista que posssa imaginar, como se nega a existência dos Reis Magos. E não pense que os adultos estão melhor. Consideram essa crença, que Deus não existe, como uma obviedade. Mas se lhe falarem do Big-Bang com terminologia da mecánica quântica e complexas orientações matemáticas pensarão que isso já dá um sentido ao real. Não compreende o absurdo?
- O inglês Chesterton dizia que chamávamos explicação ao que ficava no meio entre uma cousa inexplicável e outra cousa inexplicável.
- Que bom! É isso. Somos um enigma e um mistério mas sempre haverá alguma ordem religiosa, política, filosófica, científica ou tribal que porá as cousas no seu lugar e nós resolverá todos os enigmas ou nós prometerá resolvê-los. Não é assombroso que estejamos a falar deste modo nós aqui? Não é algo irredutível a qualquer explicação, a qualquer causa?
Nesse momento alguns celulares começaram a soar. Outros amigos liam mensagens. Alguém, num quarto ao fundo, consultava o correio em Internet.
- Como pode ver- disse Fátima, não estamos alheios. Estamos implicados e ligados às situações e à nossa gente e ao mesmo tempo podemos suspender o tempo, fazer uma paragem no meio da tempestade.
(Haydar, Haydar)
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Uma noite em Nishapur III
- Pode que tenha lido muitos livros sobre sufismo mas nós não costumamos falar sobre "sufismo", sobre religião ou teologia. É mais bem raro. As pessoas que aqui vê já passaram essa fase. Não quero dizer que não seja algo que não esteja na nossa formação ou que, individualmente, as pessoas não o façamos como forma de meditar certas verdades mas não são a base da nossa relação pessoal e da nossa dialética.
(Continuará)