sábado, 12 de setembro de 2009

Interpretações


António Machado é não só um grandíssimo poeta mas também um sutil filósofo. Gosto de ler e reler o seu Juan de Mairena de vez em quando. Inicia-se da seguinte maneira:


La verdad es la verdad, dígalo Agamenón o su porquero.


Agamenón- Conforme.


Porquero- No me convence.


De jeito compreensível durante muito tempo isto foi interpretado unilateralmente no sentido de que há verdades instauradas pelo poder que não podem convencer à parte fraca (o porqueiro). Era a típica explicação com consciência de classe de uma época.

Há, porém, a explicação de que o porqueiro é a parte desconfiada e ressentida da mente que não aceita a imparcialidade, em contraposição à nobreza do rei. A razão de que só se tenha visto uma cara durante muito tempo dá que pensar. Lembra-me o facto, que eu presenciei, de um sociólogo que interpretava os aforismos de Heráclito dizendo que era evidente o seu classismo e o seu aristocratismo, reduzindo o seu pensamento a uma simples emanação social.

Há uma frase procedente de Bahodine Naqshband que diz:

"Se ensinas por meio da autoridade não estás ensinando nada".
E haveria que acrescentar aquilo de que se só vês a autoridade do teu mestre não vês ao mestre.

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