O grande sábio Jafar Sadiq não tinha uma boa relação com as autoridades. Respeitava as leis mas não asssistia nunca às reuniões da corte e aos convites do rei apesar da suas reiterada insistência. Acontecia que tinha como vizinho um homem de costumes dissipados, alcólico e que incomodava insistentemente a Jafar Sadiq, com os seus ruídos e os seus escândalos. Um bom dia este homem envolveu-se numa disputa que o levou à cadeia. Podia ficar ali indefinidamente já que não parecia que houvesse muita vontade de manter as garantias legais com um vagabundo bêbedo.
Jafar Sadiq estranhou-se do silêncio que rodeava o seu lar. Por primeira vez podia meditar sem ser perturbado mas não estava tranquilo. De modo que saiu à rua e averiguou o que se passava.
E vemos agora ao ilustre imã Jafar Sadiq entrando na sala de recepções do rei perante o assombro dos seus cortesões e do próprio rei.
- Que felicidade ver-te aqui, ilustre amigo. Ver ao sábio dos sábios visitando a um rei não rebaixa a tua sabedoria mas eleva a minha realeza.
- Belas palavras, majestade, que humildemente agradeço. Serias, então, capaz de aceitar uma petição da minha parte?
- Fala, Jafar, farei tudo o que me peças pois é de sábios saber pedir!
- Majestade, libertai ao meu vizinho, preso na cadeia desde há dois dias. Ele não tem família e eu sou o único que pode velar pelo seu destino.
A presença de Jafar, a sua elegância e a sua nobre humildade não produziram no rei sentimentos ofensivos nem de orgulho ultrajado como poderia ser habitual e libertou ao prisioneiro perante o assombro dos cortesões.
O rei pronunciu estas palavras:
"A tradição diz que não existem os sábios para adornar as cortes mas as cortes para cenário dos sábios"
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