Em 1930 o meu avô Antonio emigrou para Buenos Aires. Ele tinha toda a sua família paterna lá. Ficou órfão com cinco anos. O seu pai era um anarquista casado com uma piedosa mulher com a que teve três filhos. O meu bisavô ia e vinha de Buenos Aires. De cada ocasião que vinha nascia um filho. O do meio foi meu avô. Ele recordava como tinha ido com outros miúdos desfazer um mitim no que participava o seu próprio pai. O cura de Corcubião encarregara-se de lhes facilitar os apitos pertinentes.
O meu bisavô tinha uma tuberculose e encontrava-se com a sua mulher e a sua família. Ela insistiu para que fossem visitar um curandeiro famoso, o cura de Vilhastoso. Ele foi sem fé, por conformar-se à petição da mulher. O cura de Vilhastoso foi claro: se ele ficava uns meses tinha esperança de se recuperar mas se ia para Buenos Aires, morreria. Ele foi para Buenos Aires, onde se encontrava a sua mãe e os seus seis irmãos. E ali morrreu com 35 ou 36 anos oito meses mais tarde.
Agora passaram vinte anos e o meu avô está na Plaza de Mayo, recém chegado, junto a centos de emigrantes que por ali deambulam sem ofício nem benefício. O único contacto que tinha com a família era por cartas ocasionais, distanciadas por anos.
Uma mulher de mais de oitenta anos acerca-se a ele e pergunta-lhe se, por acaso, conhece a Antonio Lozano, de Corcubião.
O meu avô sorri e, suponho, emocionado da-lhe uma abraço.
- Abuela!
Ele dizia-me:
Los tranvías iban a una velocidad endiablada y ella, con 83 años, los agarraba al vuelo.
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