António Machado é não só um grandíssimo poeta mas também um sutil filósofo. Gosto de ler e reler o seu Juan de Mairena de vez em quando. Inicia-se da seguinte maneira:
La verdad es la verdad, dígalo Agamenón o su porquero.
Agamenón- Conforme.
Porquero- No me convence.
De jeito compreensível durante muito tempo isto foi interpretado unilateralmente no sentido de que há verdades instauradas pelo poder que não podem convencer à parte fraca (o porqueiro). Era a típica explicação com consciência de classe de uma época.
Há, porém, a explicação de que o porqueiro é a parte desconfiada e ressentida da mente que não aceita a imparcialidade, em contraposição à nobreza do rei. A razão de que só se tenha visto uma cara durante muito tempo dá que pensar. Lembra-me o facto, que eu presenciei, de um sociólogo que interpretava os aforismos de Heráclito dizendo que era evidente o seu classismo e o seu aristocratismo, reduzindo o seu pensamento a uma simples emanação social.
Há uma frase procedente de Bahodine Naqshband que diz:
"Se ensinas por meio da autoridade não estás ensinando nada".
E haveria que acrescentar aquilo de que se só vês a autoridade do teu mestre não vês ao mestre.
Sem comentários:
Enviar um comentário