-Este é-che um conto velho
um conto novo também
enfermou a Educação
ninguém sabe o que tem
Disque está velha a pobre
que não pode c'os seus pés
anda-che roe que roe
vai todo o mundo ao rivés
Vieram médicos sábios
que até d'América eram
e com menzinhas e lábios
a velhinha compuxeram
Puxeram-na numa cadeira
toda digna e compostinha
ninguém sabia o que tinha
a enferminha sobranceira
Sábios de grandes idades
todos ao seu carão
dixeram grandes verdades
e palavras de cartão
(-Ai que afogo, ai que morro
já não sinto o coração
deixai-me morrer tranquila
ainda que for sem perdão)
Que beba sangue de dragão
que danze uma panxolinha
que coma assado um jamão
o que necessita é sardinha
Um sábio chinês falou
e depois o americano
também um índio opinou
só não falou o paisano
Puxeram-na num leito brando
outros disque sobre o chão
outros já no camposanto
outros à beira dum cão
Todos estavam dispostos
a rezar uma oração
todos tinham nos rostos
as marcas da devoção
(-Ai que afogo, ai que morro
já não sinto o coração
deixai-me morrer tranquila
ainda que for sem perdão)
Todos os sinos falavam
desta estranha condição
e cantar cantar cantavam
a morte da Educação
Passou-che uma cousa rara
no meio deste folião
um rapazinho com vara
falou assim pró montão:
-Deixai falar à velhinha
que nos deixe uma benção
se vai morrer tão aginha
que descargue o coração
(-Ti não es de Campolongo
nem de Andrade ou a Capela
Ombre, Laraxe ou o Congo
donde vens ti daquela?)
-Eu sou ninguém de ningures
que aparece nos caminhos
não fai falha que me jures
não há mentiras nos ninhos
(-Ai que afogo, ai que morro
já não sinto o coração
deixai-me morrer tranquila
ainda que for sem perdão)
-Não quero poções da China
nem ervas à americana
quero auga da fontinha
da minha aldeia galana
Quero-che pão de trigo
a poder ser sem centeo
quero-che um bom amigo
para contemplar o ceo
Todos são sábios persas
e eu morro-te acompanhada
de saberes e conversas
que morro bem afogada
Todos querem ensinar
mas ninguém aprender
todos querem mandar
e ninguém obedecer
Vou-me longe, isto acabou
aqui não tenho trabalho
aqui há sábios ao chou
imos mudar de baralho
2 comentários:
Muito obrigado e muitas graças por tão alegres tristezas, mágoas tamanhas. Um abraço e feliz Entrudo.
Gustariame poder felicitarte en portugués....imposible.Non sei.
Felicitacións polo teu blog.
Feliz Entrudo.
Bicos.Pilar
Enviar um comentário