quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Quadrinhas de sabor popular




Chega o Entrudo chocalheiro e o nosso liceu arma-se de barco pirata. Estamos a preparar as nossas foliadas e foliões. Aqui vão estas quadrinhas de saber e sabores populares. Aqui vão os airinhos da nossa terra. Iremos de choqueiros, remendando e aproveitando o que se puder.



-Este é-che um conto velho

um conto novo também

enfermou a Educação

ninguém sabe o que tem


Disque está velha a pobre

que não pode c'os seus pés

anda-che roe que roe

vai todo o mundo ao rivés


Vieram médicos sábios

que até d'América eram

e com menzinhas e lábios

a velhinha compuxeram


Puxeram-na numa cadeira

toda digna e compostinha

ninguém sabia o que tinha

a enferminha sobranceira


Sábios de grandes idades

todos ao seu carão

dixeram grandes verdades

e palavras de cartão


(-Ai que afogo, ai que morro

já não sinto o coração

deixai-me morrer tranquila

ainda que for sem perdão)


Que beba sangue de dragão

que danze uma panxolinha

que coma assado um jamão

o que necessita é sardinha


Um sábio chinês falou

e depois o americano

também um índio opinou

só não falou o paisano


Puxeram-na num leito brando

outros disque sobre o chão

outros já no camposanto

outros à beira dum cão


Todos estavam dispostos

a rezar uma oração

todos tinham nos rostos

as marcas da devoção


(-Ai que afogo, ai que morro

já não sinto o coração

deixai-me morrer tranquila

ainda que for sem perdão)


Todos os sinos falavam

desta estranha condição

e cantar cantar cantavam

a morte da Educação


Passou-che uma cousa rara

no meio deste folião

um rapazinho com vara

falou assim pró montão:


-Deixai falar à velhinha

que nos deixe uma benção

se vai morrer tão aginha

que descargue o coração


(-Ti não es de Campolongo

nem de Andrade ou a Capela

Ombre, Laraxe ou o Congo

donde vens ti daquela?)


-Eu sou ninguém de ningures

que aparece nos caminhos

não fai falha que me jures

não há mentiras nos ninhos


(-Ai que afogo, ai que morro

já não sinto o coração

deixai-me morrer tranquila

ainda que for sem perdão)


-Não quero poções da China

nem ervas à americana

quero auga da fontinha

da minha aldeia galana


Quero-che pão de trigo

a poder ser sem centeo

quero-che um bom amigo

para contemplar o ceo


Todos são sábios persas

e eu morro-te acompanhada

de saberes e conversas

que morro bem afogada


Todos querem ensinar

mas ninguém aprender

todos querem mandar

e ninguém obedecer


Vou-me longe, isto acabou

aqui não tenho trabalho

aqui há sábios ao chou

imos mudar de baralho

2 comentários:

Pedro Casteleiro disse...

Muito obrigado e muitas graças por tão alegres tristezas, mágoas tamanhas. Um abraço e feliz Entrudo.

brancalúa disse...

Gustariame poder felicitarte en portugués....imposible.Non sei.
Felicitacións polo teu blog.
Feliz Entrudo.
Bicos.Pilar