quinta-feira, 30 de abril de 2009

Culto da personalidade

To Be or Not To Be (Lubitsch, 1942)


Os estudos da sociologia e da psicologia contemporânera mostram como caimos sob padrões de comportamentos emocionalmente condicionados. Todas as sociedades tendem a fazerem isto com os seus indivíduos. Se olharmos as culturas ao longo da história estas programam aos seus membros a respostas que resultem "úteis" à tribo mas não necessariamente significam algo de valor para os indivíduos mesmos.


Com todas as críticas que se podem fazer á sociedade ocidental, digamos que esta se encontra num momento em que os indivíduos podem aproveitar isto para o seu próprio desenvolvimento de um jeito como não existira até agora. As pessoas esquecem que o autobombo sobre a "liberdade" é algo que não se começou a experimentar, de facto, até há bem pouco tempo. É uma liberdade em termos de virtualidade pois pode significar o contrário se não é utilizada construtivamente.


Se os indivíduos não assumem a necesidade de dar um sentido à vida sobre uma senda de procura da sabedoria simplesmente não há garantia de que nada do que se faça leve a lugar nenhum. Isto é também o legado ético do mais alto da cultura grega (ocidental, mas nem tanto como se pensa). Mas a sofística também é grega e calou muito mais do que a verdadeira mensagem dos mestres clássicos.


Entretanto sempre me surpreendeu o culto à personalidade (artística, política, social) presente em Ocidente sem nenhuma autoconsciência crítica. Perfeitamente visualizável nos grupos e capelas de todo tipo e condição. Muitas vezes feito de um jeito refinado e mesmo alambicado. Disfarçado também em muitas formas de contestação que mostra a fraqueza dos contestatários (uma das pessoas mais obsesionada com o poder que conheci na minha vida era um anarquista).


Se alguém reconhece a necessidade de um Mestre (e agora ponham-se a refelectir dous segundos sobre o que isto significa, realmente) causará surpresa em muitas pessoas que até esse momento o consideravam uma pessoa fiável. Passará a ser algo assim como uma pessoa de quem se diga: parece mentira, tão inteligente que é e pensa na necessidade de um mestre! Que decepção!

Todos os fantasmas, condicionamentos e medos inculcados desde a mais tenra infância afogarão a intuição essencial do homem de buscar um sábio que o ajude a ser um verdadeiro ser humano. E, como não?, sempre confiarão mais em Barrabás ou em qualquer homem de longas barbas que os impressione mas que basicamente não os comprometa nem lhes diga a verdade porque então teriamos um problema e nenhuma desculpa. E isso é intolerável: quem é ele para dizer isso?

Será alguem, é de supor, que não tenha uma reputação que cuidar ou manter.


Em último caso estamos dispostos a perder a reputação perante os outros mas perder a reputação ante nós mesmos é mais duro.


Como dizemos os galegos: ti dissimula!

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