sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Declaração de intenções: a razão.

Não foi na minha Anatólia natal que esta história aconteceu mas podia ser. Foi na velha Luanda, onde a velha lua passa caminhando, onde devagar a lua anda. Sim , Luanda. Negra de lua branca.

Fátima era velha e negra e cega. Também algo sábia. Solitária vivia com o seu tambor, uma Shams de Marchena nos subúrbios da cidade.

Os rapazes eram novos (para que dar os seus nomes?). E não eram cegos nem sábios mas também eram negros. Levaram-lhe um pássaro encerrado na mão: pequeno coração a pulsar, esperança viva do ser, estrela oculta.

- Ai, velha!. Dizem que es sábia! Veremos!. Tenho um pássaro na mão. Esta vivo ou morto?. Responde! Responde!

- Ai, meu filho. O pássaro esta morto e bem morto! Eu não me engano assim tão fácil. Com quem pensas que falas!

- Estupida!- disse o rapaz, abrindo a mão- Aí vai o pássaro. Não podes ver como voa, pois não? Adivinha-o, então.

E riram muito aqueles dous rua abaixo. E atrás deixaram a que agora passou a ser chamada, Fátima a farsante.


Desde então há um dito: "Quando tenho razão um pássaro morre mas quando a perco um pássaro vive"



Razões?. Tenho muitas razões mas isso não é o importante (Nietzsche)

3 comentários:

Anónimo disse...

Amigo José,

Pensei assim: Quando conseguimos segurar o pássaro, ele morre.
Quando o largamos, vive-nos ele.

Um abraço,

Anónimo disse...

Há um dito: mais vale pássaro em mão que um cento voando. O certo é que há quem diga: mais vale um pássaro voando que um cento na mão. Mas há outros elementos a considerar. Fátima actua de um modo pragmático porque intui que se ela demostrar a sua sabedoria intuitiva o pássaro seria apertado de mais. Ela desacredita-se com o fim de forçar a eles a que demostrem que ela não tem razão e deste jeito o pássaro ficar livre. Os que vão com a ideia de provar a Fátima levam uma pobre impressão dela (a que já de facto traziam) Mas ela, de passagem, mostra-lhes, como num espelho o que eles são: ignorantes e arrogantes. Este conto reflecte muito bem as interpretações que as gentes do mundo fazem quando julgam os actos da gente do caminho. A gente do caminho não é tanto o que diz ou mesmo, aparentemente, faz, mas o efeito que causa numa situação determinada. É pura pragmática.
Noutro sentido as razões e racionalizações estão ligadas, como muito bem investigou a psicologia, a uma vontade poder e á necessidade de se impor de uma personalidade. Isto vela ou mata o pássaro ( a subtil verdade do ser).
Estas são alguns comentários possíveis mas fazendo-o não sou muito amável, o interressaante aqui é que estas estórias fiquem na cabeça e demos voltas com elas. O seus significados vão aflorando em diversas situações como um mapa na nossa mente. Mas não devem ser sistematicamente "explicadas". Podem, isso sim, ser comentadas entre duas ou mais pessoas aportando diferentes pontos de vista.

AGIL disse...

Comecei a ver, visitar... Dei uma primeira vista de olhos: Voltarei, porque me vale a pena, porque me parece interessante, porque poderemos conversar. Abraço e adiante!